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domingo, 22 de junho de 2008

Concurso Público sem mistério

Artigo - Concurso Público Sem Mistério

Professores participantes de bancas examinadoras revelam as últimas tendências em provas e mostram como garantir a vaga

(Leila Souza Lima)

Não basta “comer” os livros, passar horas sobre apostilas ou nas salas dos cursinhos para passar em concursos públicos. Conhecer o estilo de aplicação das provas e estar atento às últimas mudanças nos exames, como novas questões e formas de abordagem, é fundamental para conquistar o passaporte para a tão sonhada estabilidade do cargo público. Macetes e segredos são passados pelos próprios professores que participam de bancas examinadoras, a partir de observações em áreas, como a fiscal e jurídica – algumas das mais procuradas. É só anotar direitinho as dicas e embarcar rumo à aprovação.
Presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) e integrante de bancas examinadoras na área jurídica, o professor Sylvio Motta destaca que as jurisprudências (interpretações judiciais) têm peso cada vez maior nos exames. “O candidato deve estar atualizado, principalmente, quanto às decisões dos tribunais superiores”, diz Motta.
A dica é reforçada pelo juiz Cláudio Brandão, também integrante de bancas examinadoras e professor da Emerj (Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro) e Amperj (Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro). Segundo ele, as decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça) são muito exigidas nas provas de Direito Adminsitrativo e Direito Constitucional. “É preciso estar atento às mudanças na Constituição e às leis ordinárias. É uma forma de verificar se o profissional está ou não estagnado”, resume o juiz.
Brandão observa ainda que o conhecimento em Língua Portuguesa tem sido decisivo nos últimos concursos. “O profissional de Direito deve se expressar com clareza e simplicidade, e não exercitar a vaidade. Nem mais no próprio meio essa linguagem rebuscada é aceita. Ao se dar uma setença, é preciso mostrar a razão da decisão daquela forma”, diz. Resumo: o velho juridisquês está definitivamente fora de uso – dica válida para outras áreas, como finanças.

Provas testam iniciativa prática

Professor de Direito Penal e Direito Processual Penal de graduações e pós-graduações e chefe de gabinete da Corregedoria Geral Unificada das Polícias Civil, Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado Rio de Janeiro, o delegado Wagner Ramos Pereira destaca que as últimas provas na área de segurança inauguraram uma nova forma de cobrança. Objetivo é testar se candidatos são capazes de tomar decisões, principalmente no caso de delegados.
“Percebemos que a função de delegado é solitária como atuador penal. Nos plantões da madrugada, em especial, ele tem que aplicar seu conhecimento, de acordo com a situação. Tivemos que passar a elaborar questões que exigem raciocínio jurídico sobre casos práticos”, explica Wagner. Segundo ele, provas exigem soluções para os “problemas”.



Maratona de estudos em dupla dose

Elas só não estão juntas na hora de dormir e no café da manhã. A contadora Andréa Grucci Maya, 26 anos, e a administradora Cynthia Peixoto, 32, conheceram-se no curso Cia dos Módulos, ficaram amigas e hoje passam grande parte do dia juntas, estudando para concursos públicos. A fórmula, segundo elas, funciona como injeção de ânimo na hora em que a “pilha” cai.
“Quando isso acontece, uma dá força à outra, e aí a gente continua a estudar”, conta Andréa. A próxima missão das duas, que já foram aprovadas em mais de um concurso, é conquistar suas vagas como fiscais da Receita Federal, que recebem salário mensal em torno de R$ 5 mil.
Depois do café da manhã, Cynthia e Andréa seguem para o Centro do Rio, onde assistem às aulas no cursinho preparatório. Após três horas seguidas, primeira pausa vem para o almoço, às vezes, nas próprias dependências do curso. “Tem que ter determinação e disciplina. Diria que meu trabalho hoje é estudar”, diz Cynthia.

Lazer e exercícios ajudam a manter baterias ligadas

Após o almoço, as duas procuram uma sala vazia e recomeçam a maratona. “São seis horas por dia de estudo. A gente pára, toma café ou água e volta rapidamente. Fui até ao homeopata, que me receitou um floral para estimular a concentração. É preciso cuidar da saúde também. Essa rotina reflete no emocional”, lembra Andréa, que faz musculação para ajudar na resistência.
Para Cynthia, ter tempo para o lazer também é importante. “Sempre que estou de bobeira, estudo. Mas não deixo de ir ao cinema e ao teatro. Tem que ter a hora de relaxar também”, pondera a candidata.

Português: prova de fogo

Falta de preparo na disciplina é armadilha contra os candidatos e conhecimento, cada vez mais exigido
Nos chamados concursos meios – Judiciário, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Detran (Departamento Nacional de Trânsito) e outros –, não houve mudanças radicais, mas algumas observações merecem destaque. O que passou a definir essas seleções nos últimos tempos foi o conhecimento do Português, segundo o professor Mauro Lasmar, da Academia do Concurso Público.
Essa é a pedra no sapato de muitos candidatos que, ao longo de sua formação, não foram incentivados à prática da leitura, interpretação e escrita. Nesse caso, só se consegue recuperar a defasagem no ensino com o auxílio de um professor. A maior parte dos cursos oferece disciplinas em módulos. Língua Portuguesa é uma das matérias mais procuradas e costuma lotar as salas de aula.
Além dessa disciplina, as matérias de Direito Constitucional, Direito Administrativo devem estar na ponta da língua. Candidatos precisam procurar ser informar também através dos estatutos de servidores das esferas municipal, estadual e federal.
TJ (Tribunal de Justiça); TRE (Tribunal Regional Eleitoral); TRT (Tribunal Regional do Trabalho); e TRF (Tribunal Regional Federal) são órgãos que oferecem vagas em Nível Superior e salários médios de R$ 1.200 a R$ 1500. Em Nível Médio (2º Grau) – Caixa e Banco do Brasil, por exemplo –, a média salarial é de R$ 1 mil, mas é possível ascender através de concursos internos. Em processos seletivos, como IBGE e Detran, os vencimentos ficam abaixo da faixa de R$ 1 mil.
Estilos diferentes de cobrança tornam alguns exames mais difíceis que outros
Estar prevenido quanto à forma como as bancas examinadoras elaboram as provas é outro fator importante na fase de preparo para concursos. Nas provas do Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cesp-UNB), organizadora de concursos como o do TCU (Tribunal de Contas da União) e Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), abertos recentemente, as questões têm um complicador que derruba muitos candidatos: são cinco afirmações para que se marque certo ou errado. Cada uma vale 0,2. O problema é que, se o aluno erra uma delas, invalida uma opção marcada corretamente, ou seja, perde pontuação.
“Se chutar errado, o candidato pode anular uma questão respondida corretamente. Na dúvida, é melhor deixar em branco”, aconselha o professor Sylvio Motta.

Maioria é de múltipla escolha simples

A verificação nos exames da Esaf (Escola de Administração Fazendária) é mais fácil: as questões são de múltipla escolha simples. No estilo assinale a opção correta, oferece cinco respostas. Se o candidato erra, não perde pontos. “É o mesmo sistema usado em concursos organizados pela Fundação João Goulart e pelo Cesgranrio”, explica Mauro Lasmar, coordenador pedagógico da Cia dos Concursos.

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